Tradicionalmente, as mulheres não tinham vez no samba. Não porque não estivessem lá, mas as rodas de samba, o palco, as composições e o sucesso eram espaços dominados por homens, ou seja, a importância delas era, infelizmente, minimizada. Por outro lado, mesmo com todas as adversidades, muitas delas conseguiram deixar suas marcas na história. Por isso não se pode esquecer o legado deixado por elas. Há muitas mulheres importantes, que se não forem reverenciadas, ficarão esquecidas neste universo que ainda é dominado pelos homens.
É o caso Eustáquia Clara dos Santos, popularmente conhecida na região como Clara do Afuchê, que há mais de 20 anos contribui para a construção do samba na região Noroeste de Belo Horizonte, e pode ser considerada uma das matriarcas do samba da regional. Moradora do bairro São Salvador há 26 anos, ela é natural Itatiaiuçu, mas na infância morou também em cidades como Paracatu, Itaúna e Pará de Minas.
Casada há 35 anos com Paulo do Cavaco, ela tem quatro filhas e 10 netos. Conheceu o marido numa roda de samba e boa parte da história dos dois foi construída neste espaço. “No início, eu contribuía escolhendo o repertório que ele ia cantar, eu ouvia as músicas numa fita K7, escrevia a letra no papel e em seguida o Paulo ensaiava. Também tinha prazer em cuidar das roupas que ele se apresentava. Cuidava de tudo com muito carinho”, conta Clara.
Depois de um tempo, decidiu pedir passagem para estar no palco também, aprendeu a tocar o afuché e depois do xique-xique, além disso, ajuda a puxar o refrão durante as apresentações. Clara é uma grande especialista em samba. Explica com propriedade como são os instrumentos ela toca. “O afoxé consiste em um cabaça revestida por uma rede feita de miçangas que pode ser de vários tipos e tamanhos. Antigamente era tocado apenas no samba, mas atualmente, o afoxé ganhou espaço no reggae e música pop, rock, funk, tecnomelodia, forró, sertanejo”, esclarece.
Sobre o xique-xique, ela diz que é cilindro comprido oco, geralmente de metal, com objetos no seu interior (conchinhas, missangas, sementes, etc). O som é produzido agitando o instrumento, de modo que os objetos do seu interior choquem com as paredes internas. Muito usado em samba e bossa nova e em festas populares, como o carnaval brasileiro.
Para se ter uma ideia dos conhecimentos que ela tem no samba, ela afirma que se inspira em mulheres do samba como Alcione, Clara Nunes e Beth Carvalho. Mas gosta muito de Martinho da Vila também. Conhece e gosta de todos os sambas e se sente em paz e plena quando está numa roda, mas Clara afirma que um dos preferidos é a música “É devagar” do Martinho da Vila.