Mais conhecida como Negra D, ou apenas Dani, Daniele Elide do Carmo, é figura diferenciada na região onde vive. Mulher, negra, mãe e cabeleireira, até aí tudo muito comum para uma mulher no Brasil. Mas ela se diferencia no fato de usar a sua profissão como resistência, isso mesmo ela utiliza o Negra D Espaço Afro, que é sua propriedade como local para conscientizar, ou mesmo ajudar outras mulheres.
Localizado na zona norte de Capital Mineira, o Negra D Espaço Afro vai muito além de ser uma simples espaço de embelezamento de cabelos, na verdade o local se tornou um ambiente de combate ao racismo. Isso porque muito além de embelezar, tratar e recuperar os cabelos crespos, o Daniele tem ainda como foco melhorar a autoestima das mulheres que frequentam o local.
Daniele é uma mulher negra empoderada e tem o sonho de ver todas as outras mulheres com esse empoderamento também. “Tento colocar na mente de todas as clientes, a importância que fomos e somos para o Brasil. Mostro para elas que nossos ancestrais foram o alicerce desse País e que nós temos que honrar o nosso passado não abaixando a cabeça”, ressalta.
Ela realiza um trabalho de formiguinha. Aquele trabalho poucos dá valor, mas que é continuo e traz grandes resultados. Muitas clientes chegam ao salão desesperadas dizendo que não gostam dos seus cabelos, que não aprenderam a cuidar deles. Então ela faz não só um trabalho de resgate a autoestima, como também de valorização de toda a cultura negra. “Eu gostaria muito que as mulheres entendessem que o nosso cabelo representa muito mais que a nossa beleza, ao desestruturar esse cabelo estamos desestruturando a nossa identidade, a nossa raiz, a nossa ancestralidade,”, completa.
Daniela passou por um processo de reconhecimento próprio como a maioria dos negros. Ela nasceu em 1977, na capital de São Paulo. Filha de manicure e depiladora, praticamente foi criada dentro de um salão de beleza, e aos cinco anos sua mãe já alisava seu cabelo, primeiro com pente de ferro quente, depois com Welim, Henne e outros alisantes.
Aos 12 se mudou para o interior deste mesmo Estado e se lembra que o local tinha uma população extremamente racista. Sua família era a única negra da pequena cidade. Ela se lembra que nesta época ia ao clube com as amigas, mas não entrava na piscina, pois o cabelo era alisado artificialmente e se molhasse iria enrolar, e as amigas poderiam rir dela. Aos 13 veio com os pais para Belo Horizonte e descobriu uma pessoa que alisava com pasta, a mãe colocava rolinhos e ela finalizava com touca. Além destes, conheceu todos os processos de alisamento que existiu.
Herdou da mãe o amor por cabelos e aos 17 anos se formou como técnica em cabeleireira do Senac. Daí por diante decidiu que seria a melhor cabeleira, que pudesse. Contudo, na época achava que o ápice da carreira seria como especialista em louras, uma vez que sua referência de cabelo que ela tinha era o liso. Fez vários cursos na área.
Morou em Londres por três anos e aproveitou para estudar um pouco mais. Ela era considerada uma ótima cabeleira, mas nunca foi satisfeita com a profissão e não entendia o motivo. A mudança começou quando sua primeira filha nasceu. Como era de esperar a menina tinha os cabelos crespos. Foi nesse momento, que Daniela decidiu que nunca mais alisaria o cabelo. Passou pelo processo da transição, colocou um megahair e depois que seu cabelo cresceu e ficou totalmente natural. “Somente nessa época que comecei sentir uma pessoa extremante empodeirada, veio uma força de dentro para fora, parece que eu me respeitava mais, naquele momento eu era quem eu queria ser”, orgulha-se.
A mudança pessoal favoreceu a mudança profissional. Como o cabelo de Daniela era muito bonito, toda vez que ela dizia que era cabeleireira, as pessoas perguntavam se ela era especialista em crespos. “Neste momento decidi me especializei em cabelos crespos, e montei um espaço só focado para esse tipo de cabelo”, conta. Atualmente, ela se emociona quando percebe que sabe cuidar do seu cabelo e do cabelo de outras mulheres e ainda resgata para elas a história que, muitas vezes, elas não ouviram na escola. Isso tem sido gratificante, eu tenho me realizado como pessoa e como mulher. Eu nunca me senti tão feliz na minha vida. Meu cabelo é minha identidade negra. A minha raiz é minha ancestralidade que vem da minha amada África”, finaliza.
Serviço: Espaço Negra D
Rua Irlanda, 156, bairro Itapoã – Belo Horizonte
Telefone: 99249-5272