Ronaldo Antônio da Silva, popularmente conhecido como Ronaldo Coisa Nossa, recebeu algumas homenagens este ano. Grande Mestre do Samba mineiro, compôs sambas por mais de 40 anos utilizando antigos papéis de pão, folhas de caderno e de embrulho e todo tipo de papel que tivesse em mãos, ou seja, não perdia nenhuma chance de registrar o seu olhar. Conhecido não somente pelo humor, mas também por canções com forte olhar político, que retrata a dura realidade do pobre e dos negros, em uma sociedade ainda discriminatória, além de outras em que ele descreve as pequenas coisas de seu dia a dia, extraindo poesia daquilo que a maioria das pessoas, com olhares endurecidos pelas mazelas da vida, não consegue mais enxergar.

Passou sua infância e parte da adolescência no bairro da Lagoinha. Desde 1963 trabalhava em um ferro-velho na Rua Rio Grande do Sul. Nessa época teve a influência do som de Jair Rodrigues, Simonal, Jackson do Pandeiro e outros mais, onde passou a compor sambas. Na década de 90, Ronaldo abriu um dos principais redutos do samba em BH, o Bar Del Rangos, mais conhecido como Opção. Um patrimônio do samba belo-horizontino, o Bar Opção atravessa gerações com o amor à música. Recentemente, o Bar Opção recebeu pela Prefeitura o título de “Bares com Alma”.

Homenagens – Entre as diversas homenagens que recebeu este ano, destaca-se uma que ele recebeu no dia 22 de agosto, Teatro Raul Belém Machado, localizado Bairro Alípio de Melo. Nesta data houve o show “Dóris, entre Mestres e Sambas, re-cantando a história do samba”, que a cantora, compositora sambista e Mestra da cultura do samba de BH Dóris realizou para promover e difundir os valores da cultura popular e afro-brasileira, mais especificamente da cultura do Samba produzido por artistas/sambistas que atuam em Minas Gerais

“Todos os detalhes da apresentação têm muito significado, passando pela participação de Mestre e das músicas. A ação objetiva também fortalecer o Samba no estado como Patrimônio Cultural e reconhecer o protagonismo de artistas negros e negras, especialmente de mulheres negras sambistas, da capital mineira”, explica Dóris.

Outra homenagem aconteceu durante o show do Coletivo Docilaré realizou, no dia 19 de julho, no bairro Concórdia, numa apresentação que reuniu música de alta energia e atmosfera festiva no Quintal do Treze, localizado no bairro Concórdia. No evento, a plateia será contemplada com a voz potente das componentes do grupo, Dóris, Cida Reis, Vivi Amaral e Raquel Seneias. Com batidas marcadas pelo pandeiro, tamborim, cuíca, ganzá, violão e cavaquinho, será foi momento forte e contagiante, onde o público interagiu dançando e participando.

O Coletivo Docilaré formado pelas cantoras: Elzelina Dóris, Cida Reis, Vivi Amaral e Raquel Seneias, teve início na virada Cultural de Belo Horizonte, no ano de 2022. Quatro mulheres sambistas que construíram suas carreiras driblando o preconceito social e o machismo no samba, utilizando diferentes estratégias para conquistar, mesmo que de forma independente, a realização do sonho de se tornarem cantoras. Quatro artistas que se unem para juntas comandar rodas de samba.

Durante o show, as artistas convidaram Ronaldo Coisa Nossa para cantar com elas. Ele apresentou cinco músicas autorais, que são caracterizadas não só pelo humor, mas também por canções com forte olhar político, que retrata a dura realidade do pobre e dos negros, em uma sociedade ainda discriminatória, além de outras em que ele descreve as pequenas coisas de seu dia a dia, extraindo poesia daquilo que a maioria das pessoas, com olhares endurecidos pelas mazelas da vida, não consegue mais enxergar.
“Escolhemos Ronaldo Coisa Nossa para ser homenageado por que ele compôs sambas por mais de 40 anos utilizando antigos papéis de pão, folhas de caderno e de embrulho e todo tipo de papel que tivesse em mãos, ou seja, não perdia nenhuma chance de registrar o seu olhar”, exemplifica Cida Reis, cantora, intérprete e sambista há 30 anos.
Nos últimos anos, Ronaldo Coisa Nossa vem contribuindo no cenário musical mineiro, cedendo algumas de suas mais de 300 composições para músicos mineiros. Em 2007, decidiu colocar algumas de suas composições em dois CDs: Sob o signo do samba e Gotas, cada um deles com 12 composições, fazendo uma homenagem ao povo negro, à Velha Guarda e a todos amantes da MPB e que amam o Brasil. Os CDs foram gravados no subsolo do bar, onde Ronaldo construiu um estúdio, batizado de Kilombo Coisa Nossa. O álbum foi gravado pelo grupo Essência e convidados. Participou como membro na fundação de algumas escolas de samba como Bem-Te-Vi, Acadêmico das Alterosas e Unidos Guaranis, e hoje é integrante da Velha Guarda do Samba de Belo Horizonte e Mestre da Cultura do Samba.